Nossa série das estações completa
sua primeira volta. Retornamos ao equinócio de outono retornando ao poema Outono de Rilke. Recitamos a nota sobre o
poema retirada de Poemas e cartas a um
jovem poeta, traduzido por Geir Campos e Fernando Jorge:
Outono
O poema parece referir-se a uma escultura de Rodin, intitulada La
Main de Dieu (1897), que apresenta
algumas figuras humanas mal saídas de mármore e caindo desordenadamente, entre
gesticulações confusas, no côncavo de uma grande mão que oportunamente emerge
da pedra. Em carta de 2 de setembro de 1902, escrita de Paris a Clara Rilke, o
poeta comenta sua primeira visita ao grande escultor: “La Main está lá. ‘É uma mão assim’ – dizia ele, e
fazia com a própria mão um gesto tão forte de expressão e plasticidade que a gente chegaria a ver as coisas sugeridas – ‘É uma mão assim, com um pedaço de
pedra bruta...’ – e apontando para as duas figuras profunda e misteriosamente
unidas – ‘é uma criação, eis aí, uma criação...’ Com que voz dizia isso: C’est
une création! A palavra francesa perderia
seu encanto se tivesse de traduzir-se com a exatidão germânica de Schopfung; a palavra parecia destacar-se de qualquer
idioma conhecido, e ganhar autonomia, sozinha no mundo – création!”.