A causa, o efeito e o absurdo – uma relação linguística

De acordo com Auerbach, o latim clássico tinha um sistema muito rico de meios de subordinação, sendo capaz de classificar um grande número de feitos e de estabelecer relações recíprocas em uma só unidade sintática. Frases longas e claras compunham o período.

O latim vulgar não tinha necessidade de classificar e de ordenar fatos. As relações entre fatos, principalmente as de causa e efeito, não mais foram expressas com a precisão clássica. Preferiu-se a coordenação.

O reemprego da subordinação só se tornou possível quando as línguas românicas se tornaram pouco a pouco literárias. Os primeiros períodos que dominam um conjunto de fatos são encontrados por volta de 1300, especialmente nas obras do poeta Dante.

Atualmente também temos preferido a coordenação. Basta prestar atenção nos textos cotidianos – nos jornais, nas propagandas, nas novelas, nos filmes, nos livros didáticos, nos blogues... E também temos tido dificuldades para estabelecer relações entre os fatos. Especialmente as de causa e efeito. Prova disso é o uso exagerado que fazemos da expressão “É um absurdo!”. Quando vemos o noticiário e achamos tudo um absurdo (a violência, a impunidade, a corrupção, a inflação), estamos perdendo nossa capacidade linguística de relacionar as causas aos efeitos.