Como uma causa tão grave possui uma defesa tão leve...
Quanto vale uma lei? Quanto vale um consenso? E o que está escrito? E a literatura?
Lei é norma (lege). Lei é aquilo que liga (ligare). Lei é aquilo que se lê (legere). Se não ordenar e normatizar as partes, se não ligar umas às outras e se não for legível a todas elas, é ainda válida uma lei?
“Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:”.
A lei sofre quando não é legível. A lei sofre quando tentam escondê-la para benefício de parte em detrimento do todo. A inibição da lei convida à violência. Violenta-se, pois lei tímida é lei frágil, consenso frágil, escrito frágil, literatura frágil.
A lei sofre quando uma causa tão grave possui uma defesa tão leve?
quando pessoas famosas tentam o convencimento pelo fato de serem somente famosas, não por terem o que dizer, sofre assim a lei?
Onde está quem diga não a palavra sem peso, mas a palavra adequada à gravidade da causa? Falta o quê? Literatura, solenidade?
Com tanta informalidade nos assuntos, com palavras soltas e vazias, os conceitos que regem a vida, que a tornam inteligível, se desfazem.
E sem esses conceitos ninguém mais pode ler o outro como igual, sem eles há desordem.
E sem os conceitos que ordenam e ligam, sem os conceitos que são claros e legíveis para todos, há separação entre as partes.
Abre-se um fosso de linguagem entre as partes que um dia buscaram uma lei coesa, inteligível e única.
Como uma causa tão grave possui uma defesa tão leve...
Continua em O poeta Gandhi e o agir poético.