Coros da Oréstia

Recito trechos dos coros da Oréstia de Ésquilo.

Coro das Fúrias em Eumênides

Cabem aqui palavras oportunas:
a insolência é filha predileta
da falta de respeito às divindades;
ao contrário, a felicidade nasce
da sã razão, e todos os mortais
chamam por ela em suas orações.
Pensando em tudo isso repetimos:
a lei suprema impõe que se venere
o altar santificado da justiça
em vez de com pés ímpios ultrajá-lo
cedendo à sedução de uma vantagem;
o castigo virá e ao desenlace
nenhuma criatura escapará.
Então, elevem-se acima de tudo
o respeito sempre devido aos pais
e a hospitalidade a quem pede.
Quem por si mesmo e sem constrangimento
sabe ser justo, será venturoso
e nunca estará totalmente morto.
Mas o contestador audacioso
curvado ao pé de muitas riquezas
amontoadas de qualquer maneira
e contra os mandamentos da justiça,
será forçado no devido tempo
- isso eu garanto! – a recolher as velas
quando a tormenta de castigos duros
cair com violência sobre a nau
partindo o mastro que lhe foge às mãos;
ele faz preces que ninguém escuta
e luta inutilmente pela vida
sob o açoite de vagas revoltas.
Os céus riem ao ver o insolente
que não pôde prever a hora trágica
e agora desespera ao enfrentar
tamanha desventura sem remédio,
incapaz de vencer os vagalhões.
No choque violento e irresistível
contra os escolhos da justiça atenta
o infeliz vê naufragar, perdido,
 sua prosperidade anterior
e sem uma lamentação sequer
perece para ser logo esquecido.


Coro das Escravas em Coéforas

Nenhum mortal consegue atravessar
a vida inteira livre de amarguras.
Uma tristeza hoje, outra amanhã...


Coro dos Anciãos em Agamêmnon

Ninguém se cansa da prosperidade.
Não lhe resistem nunca as criaturas
nem se adiantam a fechar-lhes as portas
bradando, o dedo em riste: “Não penetres!”
[...]
qual dos mortais, diante destes fatos,
pode gabar-se de ter vindo ao mundo
com um destino isento de tristezas?