O sentir

Primeiro foi ouvir a música.

Paulinho da Viola:
“O poeta declina
Daquilo que ele não sente
E o silêncio é o peso que ele conduz.”
(em Quando o samba chama)


Depois, ler o poema e lembrar a música.

Goethe:
“FAUSTO. Se a fundo não sentis, jamais a tendes,
Se do íntimo d’alma vos não brota
E com espontânea, poderosa força,
Os corações não vence, dos ouvintes.
[...]
Mas corações não ganhareis vós nunca,
Se o próprio coração vos ficar mudo.”

(em Fausto)


Por fim, vincular a música e o poema ao que já conhecia. Claro, considerando o fingir como fingir mesmo. Moldar, fazer, criar um sentimento.

Fernando Pessoa (ele mesmo):
“[...] Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm. [...]”.
(em Autopsicografia)


E sempre estamos falando da mesma coisa, algo tido como essencial na poesia.

Como fala o coração? Fala com sentimentalismos, com a palavra de quem acha que sente? Como surge a consciência do que sentimos para então poder comunicá-la? E, por outro lado, como isso tudo é percebido e entendido hoje?

Para o poeta T. S. Elliot, “além da intenção específica que a poesia possa ter, como já citei nos vários tipos de poesia, há sempre a comunicação de alguma experiência nova, de algum entendimento novo do familiar, ou a expressão de alguma coisa que sentimos mas para a qual não temos palavras, que amplia nossa conscientização ou apura nossa sensibilidade. [...] Creio que todos entendem quer o tipo de prazer que a poesia pode dar, quer o tipo de diferença, além do prazer, que traz a nossas vidas. Sem produzir esses dois efeitos, simplesmente não há poesia” (em A essência da poesia).

Bem, esse é nosso aprendizado.